quarta-feira, 17 de junho de 2009

Deixa que eu te esquento


O inverno nem chegou, mas o outono já está sendo suficiente para que todos corram aos armários, peguem os agasalhos coloquem no sol para tirar aquele cheiro de roupa guardada, os cobertores já deixaram os maleiros há certo tempo, as noites sempre são mais frias.
Dona Alice também foi ao armário essa semana, retirar roupas de inverno, procurando um casaco perdido encontrou as roupas de inverno de Lívia, é o primeiro inverno sem a filha, como ela queria que tudo tivesse sido diferente, Lívia se foi na primavera, estava esperando por um coração novo desde o inverno anterior, ela nasceu com um problema na válvula mitral, e sem o transplante não conseguiu viver até seu tão sonhado baile de debutantes; D. Alice lembra que dias antes, logo na chegada da primavera um doador compatível apareceu, um garotinho também, ela soube por terceiros que ele havia morrido de acidente, só não soube que tipo de acidente, a família não quis doar os órgãos, a mãe do garotinho tinha medo de danificar o corpinho do filho, que apesar do acidente ainda estava intacto.
Logo no final da primavera Lívia morreu, ela não conseguiu esperar, talvez se ela tivesse conseguido segurar até o verão o sol poderia ter aquecido o coração de alguma mãe que perdeu seu filho, e ela então doaria o coração do filho ainda quente para Lívia, e ele nunca se tornaria um coração frio como o de muitas pessoas que insistem em colocar em baixo de sete palmos de terra órgãos que poderiam salvar a vida de muitas pessoas, órgãos que poderiam viver ainda muitas primaveras.
D. Alice fecha o armário então, é triste de mais olhar as roupinhas da filha, ela decide juntar tudo e doar para que criancinhas carentes, ajudar o próximo, essa agora seria a única maneira de esquentar seu coração.

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